março 31, 2011

Anjos Perdidos ( O Começo - Parte 2)

“É só um pesadelo, esse tipo de coisa não existe!” dizia a si mesmo.
Foi para a cozinha, tomou um copo de água gelado para tentar se acalmar.
Aquelas cenas, os gritos, o calor ardente que sentiu. Tudo vinha sem que ele quisesse. O velho com um terno preto, de olhos escuros e ele caído no chão sem conseguir se levantar por causa dor que sentia nas pernas.
- Alan! O que foi?
Ao ouvir a voz da sua mãe de longe, se deu conta de que estava caído no chão da cozinha.
- Filho o que foi?. Sua mãe ajoelhada a seu lado tremia de desespero de vê-lo naquele estado.
O suor que corria da sua testa pingava no chão. Se levantou, acalmou a sua mãe dizendo que era só uma tontura, que acabou escorregando. Ela não acreditava mas estava mais  calma por ver que ele estava bem.
Depois dessa situação foi para o quarto, ficou deitado na cama olhando para o teto, pensando em tudo, no pesadelo, como foi parar no chão da cozinha, naquele velho estranho.
“Foda-se! É só um maldito pesadelo, pelo amor de Deus!”
Levantou decidido a realizar a sua rotina. Fez o que sempre faz até a noite chegar. Sua visão começou a embaçar, sentia tontura, um calor estranho que vinha de dentro com uma força e de repente vomitou, foi ficando cada vez mais fraco.
Deitou com a roupa que estava na cama e não levantou mais. Com os olhos fechados, curtos flashes passavam cenas de uma praia com grandes rochas, o barulho do mar invadia seus ouvidos. Suava e não conseguia se movimentar.
Quando conseguiu abrir os olhos, começou a sentir dores horríveis nos ouvidos, um zunido aumentava cada vez mais. Sentou na cama com as mãos tampando-os na tentativa de fazer passar a dor, o lado esquerdo começou a doer mais, aumentava em grande velocidade, parecia que algo estava abrindo, querendo sair de dentro. Sentia com a sua mão a orelha esquerda, literalmente algo estava saindo de lá, duro e crescia, querendo pular para fora. Por causa da força o que quer que seja pulou para a mão dele instantaneamente, sem pensar, sem reflexos. Começou a vazar pelo ouvido, provavelmente era sangue.
Abriu a mão para ver o que era, não acreditou no que via, seu coração acelerava como uma coisa dessas é possível.
Uma concha do mar razoavelmente grande, manchada de sangue, era isso que tinha saído.
Olhava fixamente, se perdeu em seus pensamentos e o zunido não ouvia mais. Depois do choque, foi lavar a concha e seu ouvido, verificou se não havia perdido a audição.
Tirou a roupa manchada de sangue e foi lavar silenciosamente para sua mãe não ouvir o barulho.
Seu coração ainda estava acelerado, não fazia ideia do que aconteceu. Mas sabia que não deveria contar para ninguém, quem iria acreditar.
(Eu sinto a sua dor, todos os batimentos que seu coração faz. E sei porque não confia em ninguém. Isso eu guardo para nós).
Sentou na cama novamente e pegou a concha na mão, era uma concha lisa e ainda estava fechada, tentou abri-la, mas não conseguiu. No fundo sabia que aquilo tudo tinha a ver com o velho do pesadelo e o medo começou a aumentar, se isso aconteceu tudo é possível, até uma morte lenta e dolorosa como viu no pesadelo pode se tornar realidade.
Tomou um leite bem quente e um calmante. Deitou na cama e começou a rezar até dormir.
Nessa noite dormiu como um bebê.
Acordou as 07h20minmin da manhã, sem pesadelo ou concha no ouvido. Nunca foi muito religioso, mas deu graças a Deus de nada mais acontecer.
Seguiu a sua rotina apesar de ser domingo, fez o café e sentou-se a mesa em silêncio tomou calmamente até sua mãe aparecer. Deu-lhe bom dia e ficou sentado conversando com ela, sobre um assunto qualquer mas nada de conchas.
Passou uma manhã tranquila, normal como outra. Recebeu uma ligação de um amigo chamando-o para ir em sua casa assistir o jogo. Não curtia futebol mas foi de qualquer jeito, só de pensar em ficar perto da Luiza qualquer coisa valia a pena.
Chegando lá sentou no sofá, seu amigo (Fernando, só para saber) pegou duas cervejas e lá ficaram.
- E a sua irmã, tá aí?
- Não, saiu com uma amiga.
- hm, você sabe onde ela foi?
Fernando olhou para ele com uma expressão de irritação e um ar “de não quero falar do assunto”
- cara, você terminou com ela, tá querendo o que? Eu sou seu amigo, mas ela é minha irmã, eu vi o estado que ela ficou, chorava sem parar, arrasada. Se você tá com a ideia de voltar pode parar. Deixa-a em paz.
Voltou a tomar sua cerveja olhando a televisão.
Um silêncio tomou conta do ambiente até o fim do jogo. Continuaram sentados, procurando algo para ver na televisão, na mesa do centro havia seis garrafas, não fez efeito em nenhum dos dois.
Não tinha ninguém na além deles, dava para ouvir o churrasco na casa ao lado. Até a porta da sala abrir, os pais de Fernando entraram, cumprimentaram eles e se retiraram para a cozinha onde conversaram sobre um casal de amigos que estão prestes a se divorciar.
Ele até sentiu uma leve decepção ao ver que era só os pais. Já era tarde e achou melhor ir embora. Chegou a casa por volta das 20:00min sua mãe estava sentada na sala assistindo um filme de romance com uma caixa de lenços de papel do lado, vários estavam usados.
Foi para o banheiro, tomou um breve banho e escovou os dentes.
Sentou-se na escrivaninha para usar o computador até as 23:00min. Quando foi deitar-se sentiu uma dor abrupta no peito, perdeu o ar, não conseguia respirar. Caiu da cama e ficou estirado no chão gelado por alguns segundos, até tudo passar, ainda no chão virou a cabeça para o lado da porta e viu o velho de terno parado olhando para ele com os braços cruzados e um sorriso estranho no rosto.
Não conseguia se mover, era como se estivesse pregado no chão. E seu coração começou a acelerar.

 G.C.Pezzatto - 30/03/11 foi para o quarto, ficou deitado na cama olhando para o teto, pensando em tudo, no pesadelo, como foi parar no ch

março 30, 2011

Anjos Perdidos

 O Começo - Parte1

Ele abriu os olhos, um pouco sonolento e assustado ao mesmo tempo. Sua respiração estava ofegante.
Os raios de sol estravam pela janela, iluminava um pouco o escuro do quarto. Ouvia o trânsito lá fora.
Ainda deitado colocou a mão na cabeça, estava suado. Respirou fundo para passar a agonia, então resolveu levantar-se, sentado na cama calçava seus chinelos lentamente.
No relógio era 10h00min da manhã.
Abriu a janela, um dia quente e ensolarado (vai ver era por isso que acordou suado), viu o trânsito passando lá embaixo pareciam carros de brinquedo.
(Não sei por que resolvi contar a história dele, às vezes vem na minha mente, a sua agonia e seus olhos claros, nunca soube definir se eram verdes ou azuis, no fim, tanto faz).
Lavou o rosto e se olhou no espelho, era a terceira vez que acordava assim nessa semana. Não lembrava se era um pesadelo ou o que era.
Depois de ter tomado seu café e feito a sua rotina, sentou-se na sala para ver televisão, ele não fazia nada da vida.
A empregada baixinha e carrancuda arrumava a cozinha ouvindo rádio.  Aquela porcaria que tocava sempre as piores músicas.
Aumentou o volume da televisão para abafar o rádio. A empregada saiu da cozinha, xingou-o baixinho  entrou novamente e fechou a porta. Ele sorriu apenas, um dos seus pequenos prazeres era irrita-la.
12h00min, o almoço estava pronto sua mãe voltou do trabalho (era professora do primário). Almoçaram junto, silêncio. Depois ela voltou para a escola.
13h00min subiu para seu quarto, tentar estudar um pouco. Nesses momentos que começava a devanear, imaginava um universo paralelo, um irmão gêmeo do mal, dragões, uma princesa bem gostosa e por assim ia. Seus estudos viravam segundo plano e por fim não aconteciam.
Como todo ser humano, qualquer mortal vivendo a sua vida infeliz, se sentia entediado o tempo todo.
Passava a tarde vagando pela casa procurando o que fazer.
17h30min, hora de arrumar as coisas para a faculdade, é a hora em que alguma coisa da sua vida começava acontecer.
Jantava com a sua mãe, ela voltava as 17:00h, só 20 minutos da escola até em casa, a empregada que arrumava o almoço e a janta. Ele era um perigo na cozinha.
Ia para a faculdade, tinha dois bons amigos, por incrível que pareça prestava atenção na aula e ia muito bem às provas.
(Mas é nessa hora que paro de escrever sobre ele, é muito entediante, não tem nada se sobrenatural, é só um cara comum, vivendo uma vida boa até, afinal, só estudava e não precisava fazer mais nada).
22h45min tomava banho e se deitava o pensamento do “pesadelo ou não” lhe veio. Então o sono chegou, seus olhos foram fechando vagarosos e suavemente.
09h09min da manhã acordou assustado e suado, sua respiração ofegante. O pesadelo agora veio, lembrava-se de tudo.
Levantou abruptamente da cama, cambaleava para o banheiro, lavou o rosto e se olhou no espelho.
A imagem veio cada cena. Preferia não lembrar, tremia. Talvez fosse verdade, não era só um pesadelo, um algo mais que provavelmente esta para acontecer.
Ele respirou, fechou os olhos por alguns segundos. Vai continuar, é agora que vai começar a viver um pouco da vida adormecida que tem.
(E eu vou passar um pouco do que lhe aconteceu, para quem quiser ler).

G.C.Pezzatto - 29/03/11