fevereiro 27, 2012

Anjos Perdidos

Capítulo 3 Alfi, o mendigo
Parte 1


Os cobertores subiam e desciam em um ritmo lento, sincronizado com os roncos altos e nojentos.
Alan o olhava com muita vontade de acordá-lo, aqueles barulhos o irritavam profundamente. Tentando ignorar voltou sua atenção para Gabriel, precisava saber mais sobre o novo serafim.
- Então, vocês irão levá-lo certo?
Gabriel achava que a conversa já estivesse acabada levantou a cabeça surpreso de ver que Alan ainda quisesse falar.
- É mais ou menos. Ele tem a graça, mas antes precisa se redimir dos pecados cometidos.
- É sério? Quer dizer, todo esse tempo nós procuramos algum serafim que tenha a graça e quando achamos ainda demoram em levá-lo? Olha só o que aconteceu com a Raquel!
Gabriel se levantou tranqüilamente sem olhar para Alan, andou até janela.
- Estamos cumprindo ordens, o reino dos céus não é um lugar qualquer, para qualquer um, ainda mais perto de Deus como os serafins ficam. Toda a forma de pureza é a passagem, e só se torna puro quem limpa a sua alma e aceita os erros que cometeu, buscando começar uma nova vida, um novo sopro...E é aí que se garante o reino dos céus, é exatamente nesse momento que você se purifica. Não posso simplesmente levá-lo sendo que ele nem se importa com o que fez, não sente culpa alguma. Ficará aqui com você e participará da missão até se redimir e assim se purificar...E entenda Alan, Raquel era a única que estava pronta  para ir, por isso Ledge a queria tanto.
O anjo voltou-se para Alan com uma expressão séria que dizia “e isso é o ponto final da nossa conversa”.
Alan controlou-se, não queria brigar com o anjo. Com o punho fechado sobre a mesa controlava a sua respiração, odiava tudo isso, toda essa bola de neve que vinha se formando, só queria ficar bem e nesse ponto já não se importava se iria machucar alguém para que isso acontecesse.
Os roncos estavam deixando-o maluco.
- Agora chega!
Bateu na mesa e se levantou, foi até a montanha de cobertores, tirou tudo de cima até que finalmente viu o causador daquele barulho torturante. Uma barba emaranhada e gigantesca cobria um rosto sujo e redondo, embaixo do cabelo enrolado e despenteado havia uma “monocelha ”  bem feia. Alan ficou surpreso com o homem.
- É sério mesmo...que isso aqui, tem...a graça?
Gabriel o olhava da cozinha.
- Não se deixe levar pelas aparências, elas não permitem que você veja as coisas como realmente são.
- Não me venha com sermão.
Começou a empurrar o homem para acordá-lo, os roncos passaram do limite.
- Vai acorda coisa feia! Levanta logo!
O homem foi acordando depois de tanto incomodo, abriu os olhos e bocejou.
- Porra que bafo!
Alan se afastou tampando o nariz.
O homem sentou e se espreguiçou, foi para a cozinha se coçando todo, passou pelo garoto ignorando-o.
- Bom dia Gabriel.
- Bom dia.
E a mesa vazia passou a ter um belo café da manhã, melhor do que o que Daniel havia preparado para ele.
Alan ainda estava indignado com aquela presença era impossível se conformar que “aquilo”  fosse um serafim e que ainda por cima tivesse a graça divina.
- Quem é ele?
Perguntou arrogantemente para Gabriel.
- Pergunte para ele, vocês precisam dialogar agora afinal irão morar juntos por um tempo.
O garoto não gostou da idéia mas não queria contrariar o anjo, sentou-se a mesa.
- Quem é você?
O homem que devorava todos os pães possíveis de uma só vez mal levantou os olhos para ele.
- me chamam de Alfi e você?
- Alan, e o que você fazia na Terra?
- nada, pedia uns trocados aqui e ali pra comprar a minha pinguinha, outras vezes roubava mesmo.
Alfi falava de boca cheia e ainda ria do que dizia.
- Você era um mendigo então?
- É isso aí.
Sorriu para Alan que sentia o estômago revirar a cada mordida que o homem  dava, sentia nojo e repulsa.
- Agora entendi porque você não foi para o céu.
Alfi nem deu bola para o garoto e continuou a comer.
Alan tentou esquecer a cena.
- E então, o que vamos fazer agora...Resgatar Raquel, procurar serafim ou dar um jeito nisso daqui?
Gabriel que continuava de pé apenas se aproximou um pouco.
- Arcanjos que irão resgatar Raquel, no momento ainda estamos vendo o que podemos fazer, não dá para simplesmente invadir  o inferno, isso poderia se tornar uma catástrofe. Vocês ficarão aqui, até Daniel voltar, agora é ele que esta procurando o outro serafim.
Alan parou para pensar e se lembrou que ao todo eram nove anjos perdidos e que agora finalmente só faltava um.
- E Ezequiel?
- Esta junto com os arcanjos.
-Então vamos ficar aqui sem fazer nada?
- Não, nós iremos ficar aqui e ajudar Alfi a se redimir.
Alan olhava para o homem que continuava a devorar tudo o que tinha na mesa.
- Acho que preferia enfrentar outro viking do que isso...

G. C. Pezzatto – 27/02/12

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