Ele não
estava bem, aquele não era seu normal. Calado, com um olhar perdido no meio de
uma expressão de raiva que beirava o vazio. O vazio de talvez não ter mais um
destino.
O modo como
ele falou com o mestre de cerimônias beirava a insano, acho que foi por isso
que permitiram a minha presença. Um louco para o Jogo deles seria extraordinário
para os telespectadores.
Subimos para
o quarto que era imenso. Terrivelmente belo, a decoração era a mesma do Hall de
entrada. Colocaram as nossas mochilas em um sofá ao pé da cama.
Benjamin não
falou uma palavra depois daquela cena com o mestre de cerimônias. Ele foi até a
janela, a vista não era bonita, dava para os escombros do cenário do Jogo, ele
olhou por um bom tempo. Fiquei sentada na cama sem a menor vontade de
conversar, nada daquilo era justo conosco, com ninguém. Talvez fosse a ultima
noite dele ou não, se o destino deu um tempo a mais ao Benji não sei a única coisa
que posso dizer é que até agora esse tal de destino foi perverso.
Apesar de o
quarto ser lindo, nossa noite foi mal dormida não conseguíamos fechar os olhos
e descansar acordávamos assustados e como sempre calados.
No dia
seguinte serviram o café em nosso quarto e nos disseram que deveríamos permanecer
ali até alguém do programa aparecer para nos levar ao estúdio.
Quando os
Jogos surgiram na America do Norte era para ser um tipo de homenagem as guerras
do passado. Mas o lado ruim da humanidade transformou em algo sensacionalista e
repercutiu no mundo inteiro. O Brasil sempre foi conhecido como o país de jogos
ou de programas sensacionalistas, os Jogos Vorazes foi um prato cheio. No meio
de tanta corrupção e violência um louco se tornou presidente, era um ex-militar
que servia para ajudar nas guerras de outros países, viu muitas guerras e cada
vez que voltava se tornava mais violento, ninguém conseguia impedi-lo, não sei
como toda a bagunça do nosso país permitiu um homem como aquele ser presidente
e não sei como ele se elegeu, provavelmente por debaixo do pano.
Ele aumentou
o nível de violência entre traficantes e policiais, usava dinheiro publico para
comprar armas para os militares acabarem com as favelas. Em menos de um ano
metade de metrópoles foram devastadas. As fronteiras do Brasil foram fechadas e
bem armadas ninguém mais saia e ninguém mais entrava. Forças humanitárias de
fora no inicio da chacina tentaram impedir, mas foi em vão e logo desistiram de
nós.
Depois que
assumiu a presidência fazia discursos elogiando os Jogos vorazes que até ali,
já haviam tomado o que antes era a Europa
e o Continente Africano. Sem democracia ou decisão unânime os Jogos
Vorazes nasceram em um país alienado e abandonado pelo resto de humanidade que
se escondia em algum lugar do globo terrestre.
Cidades devastadas,
câmeras instaladas em todos os lugares, os Jogos não são homenagem e sim um
programa de entretenimento. Não existia treino e nem patrocinadores, era um kit
de sobrevivência e algumas armas ficavam espalhadas pelo cenário.
Conforme os
anos passavam, cada presidente tinha a veia de louco assassino. E agora estamos
na 40ª Competição dos Jogos Vorazes,
onde as regras nem sempre são regras, e as pessoas são apenas mais uma peça da
chacina.
Disseram que
eu podia acompanhá-lo até a plataforma onde ele e os outros seis campeões entrariam
para o cenário.
Estávamos no
quarto deitados na cama preparados para quando chamarem.
- Benji... Eu...Sinto
muito...Não queria que você fosse, eu queria ter ido no seu lugar, se tivessem
permito eu iria...
- Não... Eu
não aceitei a troca, por isso eles recusaram você acha que eu conseguiria ficar
sentado vendo o Jogo enquanto você poderia ser morta a qualquer momento?
- E você
acha que eu vou conseguir fazer isso?! Você está maluco! Benji eu vou te tirar
de lá, eu vou dar um jeito...
- Para com
isso! Não tem como, você pode acabar morta só de chorar e me segurar lá na
plataforma. Por favor, se controla, eu vou voltar, eu vou dar um jeito de
voltar e... Que droga, não chora, por favor...
Já não
conseguia mais me controlar, eram meus últimos minutos com ele e não podia
chorar.
Bateram na
porta, três vezes e depois uma voz masculina chamou pelo Benjamin. Um homem bem
magro de mais ou menos uns 30 anos entrou, ele usava um macacão cinza e um
boné da mesma cor, usava um headset. Olhou para nós, ele não era igual aos
outros dali, tinha um olhar diferente e sua voz era baixa porém firme. Parecia que
não gostava muito do que fazia.
- Está na
hora de descer para o estudio, está pronto?
Benjamin se
levantou pegou o kit que era basicamente uma mochila com algumas rações, uma
corda, um revolver de calibre 38. , e munições. Ele olhou para mim e dessa vez
eu vi que não tinha jeito chegou a hora.
- Sim.
- Então me
acompanhe, por favor.
Descemos pelo
elevador em silencio que já tinha se tornado uma estranha companhia.
- Vou
levá-lo até a porta do estúdio, lá você vai entrar para dar uma entrevista
rápida e depois eu vou acompanhá-lo até o portão da plataforma.
Falando isso
ele se virou para mim.
- E você vai
ficar o tempo todo do meu lado sem chorar beleza? E vai obedecer se quiser
passar mais uns minutos com ele... Vai ter pessoas demais morrendo sem
necessidade, por favor não seja mais uma.
Ele realmente
não gostava do que fazia.
- Sim
senhor.
Passamos por alguns corredores, até que o
homem fez sinal para eu parar ele levou o Benji até uma cortina azulada,
conversou com ele por alguns minutos com uma expressão muito séria e então o
Benjamin entrou e nesse momento apenas ouvi aplausos e gritos.
- Benjamin Malaresi! Pelo visto o favorito
de muitas garotas não? Ouvi boatos de fã clubes
meu rapaz. É acho que a torcida para você é grande...
A entrevista
continuou por um tempo, Benji parecia aceitar tudo que o mestre de cerimônias falava
o que era estranho, parecia simpático. Eu não conseguia ver nada só ouvia as
vozes. Meus estomago revirava de certo modo não queria que a entrevista
terminasse, era mais seguro o Benji ali sem ao menos poder vê-lo do que poder
vê-lo no meio do Jogo.
- Ele está
se comportando bem, é bom saber que me ouviu.
- Você disse
para ele se comportar assim?
- Claro, se
ele quisesse ver você depois da entrevista essa era a única maneira.
- Obrigada.
- Por nada.
- E esse foi Benjamin malaresi, senhoras e
senhores! Vamos agora para a plataforma dar inicio ao nosso Jogo!
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