janeiro 31, 2013

Parte 3 - O Início do Jogo




Ele não estava bem, aquele não era seu normal. Calado, com um olhar perdido no meio de uma expressão de raiva que beirava o vazio. O vazio de talvez não ter mais um destino.
O modo como ele falou com o mestre de cerimônias beirava a insano, acho que foi por isso que permitiram a minha presença. Um louco para o Jogo deles seria extraordinário para os telespectadores.

Subimos para o quarto que era imenso. Terrivelmente belo, a decoração era a mesma do Hall de entrada. Colocaram as nossas mochilas em um sofá ao pé da cama.
Benjamin não falou uma palavra depois daquela cena com o mestre de cerimônias. Ele foi até a janela, a vista não era bonita, dava para os escombros do cenário do Jogo, ele olhou por um bom tempo. Fiquei sentada na cama sem a menor vontade de conversar, nada daquilo era justo conosco, com ninguém. Talvez fosse a ultima noite dele ou não, se o destino deu um tempo a mais ao Benji não sei a única coisa que posso dizer é que até agora esse tal de destino foi perverso.
Apesar de o quarto ser lindo, nossa noite foi mal dormida não conseguíamos fechar os olhos e descansar acordávamos assustados e como sempre calados.

No dia seguinte serviram o café em nosso quarto e nos disseram que deveríamos permanecer ali até alguém do programa aparecer para nos levar ao estúdio.

Quando os Jogos surgiram na America do Norte era para ser um tipo de homenagem as guerras do passado. Mas o lado ruim da humanidade transformou em algo sensacionalista e repercutiu no mundo inteiro. O Brasil sempre foi conhecido como o país de jogos ou de programas sensacionalistas, os Jogos Vorazes foi um prato cheio. No meio de tanta corrupção e violência um louco se tornou presidente, era um ex-militar que servia para ajudar nas guerras de outros países, viu muitas guerras e cada vez que voltava se tornava mais violento, ninguém conseguia impedi-lo, não sei como toda a bagunça do nosso país permitiu um homem como aquele ser presidente e não sei como ele se elegeu, provavelmente por debaixo do pano.
Ele aumentou o nível de violência entre traficantes e policiais, usava dinheiro publico para comprar armas para os militares acabarem com as favelas. Em menos de um ano metade de metrópoles foram devastadas. As fronteiras do Brasil foram fechadas e bem armadas ninguém mais saia e ninguém mais entrava. Forças humanitárias de fora no inicio da chacina tentaram impedir, mas foi em vão e logo desistiram de nós.
Depois que assumiu a presidência fazia discursos elogiando os Jogos vorazes que até ali, já haviam tomado o que antes era a Europa  e o Continente Africano. Sem democracia ou decisão unânime os Jogos Vorazes nasceram em um país alienado e abandonado pelo resto de humanidade que se escondia em algum lugar do globo terrestre.
Cidades devastadas, câmeras instaladas em todos os lugares, os Jogos não são homenagem e sim um programa de entretenimento. Não existia treino e nem patrocinadores, era um kit de sobrevivência e algumas armas ficavam espalhadas pelo cenário.
Conforme os anos passavam, cada presidente tinha a veia de louco assassino. E agora estamos na  40ª Competição dos Jogos Vorazes, onde as regras nem sempre são regras, e as pessoas são apenas mais uma peça da chacina.

Disseram que eu podia acompanhá-lo até a plataforma onde ele e os outros seis campeões entrariam para o cenário.
Estávamos no quarto deitados na cama preparados para quando chamarem.
- Benji... Eu...Sinto muito...Não queria que você fosse, eu queria ter ido no seu lugar, se tivessem permito eu iria...
- Não... Eu não aceitei a troca, por isso eles recusaram você acha que eu conseguiria ficar sentado vendo o Jogo enquanto você poderia ser morta a qualquer momento?
- E você acha que eu vou conseguir fazer isso?! Você está maluco! Benji eu vou te tirar de lá, eu vou dar um jeito...
- Para com isso! Não tem como, você pode acabar morta só de chorar e me segurar lá na plataforma. Por favor, se controla, eu vou voltar, eu vou dar um jeito de voltar e... Que droga, não chora, por favor...
Já não conseguia mais me controlar, eram meus últimos minutos com ele e não podia chorar.
Bateram na porta, três vezes e depois uma voz masculina chamou pelo Benjamin. Um homem bem magro de mais ou menos uns 30 anos entrou, ele usava um macacão cinza e um boné da mesma cor, usava um headset. Olhou para nós, ele não era igual aos outros dali, tinha um olhar diferente e sua voz era baixa porém firme. Parecia que não gostava muito do que fazia.
- Está na hora de descer para o estudio, está pronto?
Benjamin se levantou pegou o kit que era basicamente uma mochila com algumas rações, uma corda, um revolver de calibre 38. , e munições. Ele olhou para mim e dessa vez eu vi que não tinha jeito chegou a hora.
- Sim.
- Então me acompanhe, por favor.
Descemos pelo elevador em silencio que já tinha se tornado uma estranha companhia.
- Vou levá-lo até a porta do estúdio, lá você vai entrar para dar uma entrevista rápida e depois eu vou acompanhá-lo até o portão da plataforma.
Falando isso ele se virou para mim.
- E você vai ficar o tempo todo do meu lado sem chorar beleza? E vai obedecer se quiser passar mais uns minutos com ele... Vai ter pessoas demais morrendo sem necessidade, por favor não seja mais uma.
Ele realmente não gostava do que fazia.
- Sim senhor.
 Passamos por alguns corredores, até que o homem fez sinal para eu parar ele levou o Benji até uma cortina azulada, conversou com ele por alguns minutos com uma expressão muito séria e então o Benjamin entrou e nesse momento apenas ouvi aplausos e gritos.
- Benjamin Malaresi! Pelo visto o favorito de muitas garotas não? Ouvi boatos de fã clubes  meu rapaz. É acho que a torcida para você é grande...
A entrevista continuou por um tempo, Benji parecia aceitar tudo que o mestre de cerimônias falava o que era estranho, parecia simpático. Eu não conseguia ver nada só ouvia as vozes. Meus estomago revirava de certo modo não queria que a entrevista terminasse, era mais seguro o Benji ali sem ao menos poder vê-lo do que poder vê-lo no meio do Jogo.
- Ele está se comportando bem, é bom saber que me ouviu.
- Você disse para ele se comportar assim?
- Claro, se ele quisesse ver você depois da entrevista essa era a única maneira.
- Obrigada.
- Por nada.

- E esse foi Benjamin malaresi, senhoras e senhores! Vamos agora para a plataforma dar inicio ao nosso Jogo!

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