agosto 21, 2019

O espaço da liberdade entre os trilhos e o trem


Vejo-me mais uma vez parada na frente desse trem, onde vejo pessoas desembarcarem e embarcarem. Eu fico congelada apenas olhando e nessa brincadeira de querer saber sobre o existencialismo o tempo desacelera tudo passa lento e embaçado em volta de mim, parece até que fica difícil respirar meu peito dói e às vezes acho que nem é pela falta de ar. Talvez seja para suavizar ou para compreender melhor esse pensamento complexo de existencialismo que penso na rotina. Ela é a pior coisa que existe, porém não nego que não saberia viver sem segui-la. De tempos em tempos quando a rotina pesa eu sinto que é uma prisão de liberdade e não penso que seja uma ironia. Alguns dizem que ela é boa, as pessoas criam modos, responsabilidades e até respeito, honestamente eu discordo disso e sinto uma grande agonia ao pensar nela e o pior é que não sei se isso é ruim ou bom.
Estou sentada olhando um caderno cheio de orelhas com várias páginas arrancadas e folhas coloridas perdidas no meio no qual nem imagino o motivo de ter colocado ali. Falo de trem metafórico e nem sei se alguém irá entender o que escrevo. No fim das contas tudo volta para o ponto zero, inicio da partida, tanto faz é tudo sobre o que penso entender de existencialismo. Não é uma dessas crises “Por que existo?”, “Por que as coisas são assim?” essas perguntas que todo mundo já sabe as respostas: Não existe uma única resposta. É uma revolta contra o tempo, ele acelera demais para as pessoas e quando se pisca a maior parte da vida já se foi, pessoas que já se foram. Crise de que a gente existe, porém não o suficiente para viver o momento e quando vivemos o tempo voa para bem longe cruzando a linha do horizonte. Vai ver a existência fez um pacto com o tempo e os dois não podem ser completos no mesmo momento.
Como todas as vezes que penso em rotina, penso nos pés, só que não de qualquer um, penso nos pés do Diego. Descalços, com meia, chinelos e tênis. Andando pela rua, com pressa, pulando buraco, subindo escada descendo a ladeira. Subindo no degrau do ônibus e descendo. Passando apressado pela multidão de gente, como ele detesta isso!
          Atravessa a rua, e chega aos paralelepípedos finalmente, entra no prédio, me vê esperando por ele e então seus pés dão Oi para os meus. Logo em seguida ele entra no vestiário e o tênis santo de todo dia é trocado pelo sapato apertado da rotina. E com ele fica sentado na frente do computador trabalhando até a hora do almoço onde tira e deixa em um canto enquanto seus pés descansam para o alto em cima da mesa. Em um piscar de olhos, ou no caso, o momento de colocar os pés na mesa já passou, e assim o sapato incômodo é colocado de volta e tudo começa outra vez. A hora da saída, santa hora! O tênis confortável consola os pés pedindo para aguentar só mais um pouco. E o caminho percorrido na ida é feito para a volta, ladeira, ruas, ônibus, faixa de pedestre, rua, buracos, gente, quanta gente que assim como ele corre para casa, lar doce lar. Descalço, sofá, banho, cama.
Terceirizo pensamento de rotina para o Diego, o que deixa mais fácil aceitá-la, pois se a coloco no meu dia-a-dia tudo parece irreal, meio acordado e meio dormindo e mais uma vez tento escapar escolhendo em qual mundo quero estar, na imaginação ou na realidade. Olhos fixos na tela de um computador esperando que o sistema passe, apenas fixos porque na verdade estão voltados para dentro onde ninguém pode entrar e penso em todas as situações que aconteceram e monto uma realidade paralela  onde deveria falar aquilo ou agir de tal maneira. E de repente meus olhos caem para as minhas mãos e reparo quão estranhas são e como meu esmalte vermelho já está descascado sendo que passei no sábado. Vejo as pessoas ao meu redor como robôs programados para fazer aquilo todo santo dia. E estamos prestes a fazer essa rotina para o resto da vida, trabalhar onde não queremos e se queremos deixamos de gostar depois de um tempo. Muitas vezes para comprar objetos não tão uteis, só por que outro tem você quase faz questão de ter igual ou melhor do que aquele, e estou só divagando, entre quatro paredes ouvindo os mesmos sons que nem música se quer são.

Vou deixar mais uma vez, talvez por esperança, nas mãos do tempo. Quem sabe dessa vez eu não embarque no trem, mas como Sartre disse “O homem esta condenado à liberdade”.

Djo Cezare - 29/08/17

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