julho 07, 2011

A cirurgia





História verídica, talvez cômica. 
Sempre tive vontade de escrever essa história, só estava esperando o momento certo...


Eu tenho uma pinta moderadamente grande do lado esquerdo do meu umbigo. E desde pequena as pessoas a minha volta falavam que era meu charme...
"Cadê a pinta charmosa?"
E como qualquer ser humano eu me sentia a coisa mais linda do mundo, só por causa de uma pinta (é por que na época não tinha auto-estima o suficiente para me apegar a qualquer outra coisa).
Entrei na adolescência, ainda achava a pinta um charme mas como qualquer tímido, escondia. Toda vez que ia para praia ou a uma piscina colocava as mãos em volta do umbigo (hoje não faz mais sentido mas na época...).
Quando fiz 14 anos descobri que tinha um cisto no ovário esquerdo, foi uma descoberta um pouco tardia, o cisto já estava grande. Fiz todos os tipos de tratamento possíveis (base de hormônios) foi pílulas, injeções a cada 3 meses. E foi assim durante 2 anos. Nada adiantou.
Em 2006, o médico disse que eu precisava fazer a cirurgia. Aceitei, não tive medo algum. Fiz todos os exames necessários, até os de sangue (inclusive desmaiei por culpa da médica). Tudo pronto...Fiz a cirurgia, foi uma laparoscopia, É aquele em que introduzem um laparoscópio dentro para o cirurgião ver o tecido e no meu caso removê-lo. Fizeram três pequenos cortes, dois na virilha e um embaixo do umbigo (é onde introduzem o laparoscópio).


1ª Parada!
Você deve estar se perguntando, o que uma coisa tem a ver com a outra? Pois bem, continue lendo e verá...Voltando para o texto.
A cirurgia aconteceu perfeitamente bem. Detalhe importante foi anestesia geral. Acordei meio mole, meio...Entorpecida.
Meus pais foram me ver, com o rosto vermelho de chorar ficavam me perguntando.
"Você tá bem? Como você tá se sentindo?" 
Enquanto eles eram as coisas mais doces do mundo, naquela cena de emocionar até o mais machão. A unica coisa que consegui responder foi...
"Mãe, pai...Preciso ir ao banheiro, tô muito apertada"
Pois é, eu consegui quebrar o clima total. eles me olharam com uma expressão de ponto de interrogação.
Bom, e assim continuou , fui para o quarto, tive uma noite péssima porque a enfermeira vinha de 4 em 4 horas aplicar uma medicação (que até hoje não sei qual é) no meu quadrante superior lateral esquerdo do meu glúteo máximo esquerdo, isso é meu bumbum...Esquerdo. Já estava dolorido de tanta injeção.
Na manhã seguinte acordei pior do que quando sai da cirurgia.


2ª Parada!
Estava mais entorpecida ainda, indo para o mundo da lua...Voltando para o texto.
Meu café da manhã foi um chá sem açúcar e bolachas de água e sal.
Então a porta do quarto se abriu novamente e o sol brilhou, passarinhos cantavam lá fora e os anjos tocavam suas harpas no céu. Pois havia trocado o turno de enfermeiros, e eu fui (quase) abençoada por Deus. Um enfermeiro, um deus grego, a sétima maravilha, um anjo moreno, agora era o responsável por mim.
Ele veio na minha direção com um sorriso de comercial da Colgate perguntando se eu estava bem e todas aquelas perguntas pós-cirurgia. Eu disse que estava tudo maravilhoso.
- Que bom! Então daqui a pouco eu volto para dar banho em você.
Falando isso saiu do quarto com o mesmo sorriso que entrou.
Não acreditava naquilo, aquele anjo iria dar banho em mim. Um sorriso começou a aparecer em meu rosto.
A minha mãe que passou a noite do meu lado, dormiu pior que eu, ela estava impaciente para ir embora. O médico disse que eu iria receber alta naquele dia mesmo.
- Você consegue tomar banho sozinha, não consegue?
- Ah mãe...Não sei...
- Consegue sim, vamos tomar banho.
- Não sei, acho que é melhor eu esperar o enfermeiro.
- Acho que você consegue.
Infelizmente eu sabia que dava para tomar banho sozinha, e de tanto ela me encher eu fui.
Enquanto estava lá tomando o pior banho da minha vida, nem olhei para os curativos, na verdade, nem lembrei de olhar...
Me troquei e voltei para a cama. Estava com o tronco elevado (chama-se posição de Fowler). A porta abriu, e o enfermeiro apareceu pronto para me dar banho. Com aquele sorriso no rosto...Daí eu lembrei que já tinha tomado banho.
Minha mãe estragou um dos momentos que poderiam ter sido incríveis. Nunca saberei o que é ser banhada por um deus grego.
Valeu mãe!
Enfim, ele viu que eu já tinha tomado banho, e disse que então outras duas enfermeiras iriam vir trocar os curativos.


3ª e Última parada (Eu prometo)
É aí que começa os efeitos bem fortes, já estava no mundo da lua partindo para marte! Voltando...
Elas vieram e levantaram um pouco a minha blusa para poder trocar.
Dessa vez eu reparei no curativo do umbigo. Pegava a parte de baixo e um pouco do umbigo, estava com bastante sangue seco. Até aí tudo bem, pensei "É óbvio que tem sangue, acabei de fazer a cirurgia". Mas quando olhei para o lado esquerdo, um desespero começou a crescer...Eu não via a minha pinta!
Na minha cabeça começou a passar um pequeno filme da cirurgia...
Os médicos fazendo o corte olham para a pinta e falam um para o outro.
- Olha que pinta grande!
- Pois é! Será que não é cancerígena?
- Não estou vendo pelo nenhum nela, acho que não... 
- Mas você quer tirar a pinta do mesmo jeito?
- Eu quero e você?
- Ah! Eu também, vamos tirar então!
A minha mente fértil e entorpecida criou essa cena. Eu pensei
"Será que eles aproveitaram a minha cirurgia e removeram a minha pinta?"
O desespero cresceu mais ainda. Virei para a minha mãe com os olhos bem arregalados e disse.
- Mãe do céu! cadê a minha pinta? Eles tiraram a minha pinta?!
As enfermeiras que estavam preparando o material para a troca se olharam e tentavam segurar o riso, a minha mãe...A pobre coitada da minha mãe se segurou também mas era para não me xingar mesmo.
- Claro que não!
Deu para ler a sua mente, elas estava me xingando.
Mesmo assim entorpecidamente não estava convencida.
"Cadê a minha pinta?". Pensava desesperadamente.
Uma das enfermeiras começou a tirar o curativo e disse.
- Calma, olha sua pinta aqui. Viu? Não removeram, tá tudo bem.
Elas continuavam segurando a risada.
Eu olhei para a minha adorável pinta e me lembrei de quando eu era criança e de como chamavam a minha pinta de charmosa. Suspirei atordoadamente aliviada. 
- Ah graças a deus ela tá aí.
Deitei e dormi...
Um desespero só por causa de uma pinta.
Por isso não menospreze as pessoas, principalmente quando estão entorpecidas, não sabe do que são capazes...Podem até cuspir pra cima e cantar Singing in the rain ao mesmo tempo. 
...Acho que faltou pouco para mim fazer isso...


G.C.Pezzatto - 07/07/11

Um comentário:

Jeff Lourenço disse...

É cômica a parte da sua mente mirabolando sobre a conversa dos médicos e a pinta ;D

Postar um comentário