agosto 18, 2011

Pedaços presos em laços



Corria.
Ela corria com o coração na mão, corria o mais rápido que suas pernas curtas conseguiam, corria como se o tempo já tivesse ficado para trás.
E em sua mente passava os momentos raros de felicidade que sentiu ao seu lado, passava e repassava, marcando o compasso, como música Bossa Nova, como as idas e vindas das ondas, como se sua existência não passasse disso. Um pequeno pedaço dela preso apenas por um laço invisível nele, e ela necessitava manter esse laço, não permitir que ele desprendesse...

- Isso é ridículo, é puro egoísmo, Arthur.
- E se for? É o que eu acredito.
- É loucura.
- Não, é a minha opinião.
- Se isso é verdade, então não passamos de seres egoístas que não querem a companhia do outro, mas só o “pedaço” como você disse, de nós próprios, preso no outro, é isso?
- É sim Nanda. Quando sentimos algo especial por alguém, é porque no fundo essa pessoa tem um pedaço nosso preso a ela, enlaçado. E então, sentimos a falta  que esse pedaço faz, ele nos completa, meio torto meio certo.
- E quando eles terminam como fica esse seu pedaço?
- Ele volta pra você.

Ele sentia o vento passar acariciando a sua triste face, e seus olhos não viam mais o mundo. Estavam voltados para dentro de seu mundo. A pulsação que sentia era uma força contraria a das lágrimas que segurava para não aparecer.

- Você não me completa. Por que já sou completa, faço as coisas pela a minha felicidade, você é apenas um anexo. Algo que se eu não tivesse faria falta, mas não seria necessário.
- Você me tem.
- Não, eu não te tenho.
- Você me tem sim. Por que eu quero ser seu, posso ser apenas um anexo, mas sou o anexo que você tem.
- Então não quero mais que você seja o anexo. Já não aguento mais você vivendo fora da realidade, essas suas histórias de louco, papinho de filosofia chula.

Tudo que acreditava ficava para trás, conforme corria na direção oposta de suas crenças. Toda a arrogância e a falta de imaginação partiam, uma pequena pontada em seu estômago crescia, talvez fosse humildade.
Se fosse história de louco, ou um breve romance anexado em sua vida, não iria terminar assim.
Entrou pelo portão do quintal que estava aberto, e lá estava seu anexo, o que ainda talvez fosse seu. Sentado em um banco já enferrujado embaixo da árvore que nem sombra fazia mais.
Seu olhar saiu do seu mundo, se voltou por um momento para a realidade.

- Você soltou? Desprendeu o laço Arthur?
- Não, não posso fazer isso. Por que acho que ficou tempo demais dentro de mim. O seu pedaço virou o meu pedaço.
- Que bom. Por que pra mim você não é mais um anexo, você é a imaginação que eu não tinha.
- Agora você tem?
- Agora eu te tenho.

Ela se sentou ao seu lado, segurou a mão que lhe pertencia, se fundiram, passaram a ser apenas um dividido em dois recipientes.
Ou talvez dois anexos de uma vida só.

G.C.Pezzatto -18/08/11

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