agosto 16, 2011

Anjos Perdidos - Parte 7 (O final)



Abriu os olhos lentamente, o quarto já estava claro, sentou-se na cama e viu que seu abdômen estava inteiro enfaixado, não sentia dor alguma. Passou a mão em seu rosto e sentiu uma barba muito comprida.
“Quanto tempo fiquei dormindo?!”
Trocou-se e desceu.
Daniel estava sentado a mesa da cozinha com a cabeça baixa. Assim que ouviu Alan descer  levantou a cabeça para olhá-lo, abriu um pequeno sorriso.
- Bom dia. Como esta se sentindo?
- Bom dia. Acho que bem...
Sentou a mesa, de repente apareceu a sua frente um delicioso banquete de café da manhã.
- Obrigado, tô com muita fome...
Disse tomando uma caneca de café.
- Não é para menos. Você ficou quatro meses dormindo.
Ao ouvir isso cuspiu o café de tão surpreso que ficou com a noticia.
- O que?!... Quatro meses?!
Dizia entre engasgos.
- É, exato. Sua recuperação não foi fácil, Rafael veio todo o dia tentar te curar, e mesmo assim não conseguiu por completo, sinto muito, mas as cicatrizes vão ficar assim, foi o máximo que ele conseguiu. Aquele demônio te agarrou com muita força.
Alan não sabia o que pensar, parecia ter entrado em estado de choque... Ficou quatro meses dormindo, como podia acontecer algo assim.
- Anda logo, você precisa se alimentar.
O anjo disse apoiando o cotovelo na mesa e a cabeça na mão. Tinha um ar tristonho. Alan nunca viu nenhum dos anjos tristes antes.
Preferia não comentar nada. Voltou a tomar seu café. Depois arrumou tudo, ainda não entendia porque Daniel o fazia limpar sendo que podia fazer tudo sumir. Subiu para o banheiro, foi tomar um banho, tirou as faixas que protegiam às cicatrizes, viu grandes cortes dos dois lados de seu abdômen, estavam mal cicatrizados. Tomou um banho demorado e fez a sua barba, não tinha condição de deixar daquele jeito.
No corredor olhou pela janela a praia. Toda a conversa que teve com Ledge veio à tona em sua mente, sentia um frio na barriga. Desceu para a cozinha, Daniel ainda estava sentado a mesa com a mesma cara de tristeza.
Alan ficou surpreso, para ele os anjos até então, nunca demonstraram nenhum tipo de expressão ou sentimento, por que agora?
A única coisa que sabia é que não queria ficar no chalé, resolveu sair, andar pela praia. Daniel não fez nenhuma objeção quando ouviu Alan sair.
O garoto andava na beira da água e pensava nas coisas que Ledge havia lhe dito.
“Será que é tão ruim?”
De uma coisa sabia, não fica a vontade perto dos anjos, e do modo que Ledge disse, se daria bem com ele.
Alan nunca foi apegado a ninguém, não se importava com os outros, às vezes perguntava para um e para outro como estavam, mas não dava a mínima para as respostas. Nem a sua mãe, que na verdade não era sua mãe, ele ligava.
Olhava para o céu, seu olhar descia até o mar e parava em seus pés que nessa altura da caminhada já tinha encharcado seus tênis e estavam cobertos de areia.
A idéia de trocar de lado passava em sua mente. Sempre soube que não era uma boa pessoa e não tinha vontade em ser. Antes quando achava que ia para o inferno tinha medo, muito medo. Agora sabendo que não irá sofrer como pensava, não parecia ser ruim, afinal toda vez que a idéia de ir para o céu lhe aparecia, era uma idéia bizarra, não combinava com isso. Não parecia ser o lugar perfeito para ele.
“Droga! O que é que eu to fazendo aqui?!”
Sentia-se frustrado consigo. Nesse momento parou de andar, se virou e viu que o chalé não passava de um ponto minúsculo perdido no horizonte. Olhou para frente e via o final da praia e atrás grandes serras.
“O que será que tem depois dali?”
  Não quis se aventurar apesar de se sentir curioso. Achou melhor voltar para o chalé, sem vontade alguma.
Enquanto voltava lembrou-se de Raquel, queria saber o que tinha lhe acontecido no final e se conseguiram resgatá-la. E lembrou que alguém havia acertado Ledge quem era? Outro anjo? Pela voz não parecia.
Pensando nesses assuntos começou a correr de volta, tinha que saber as respostas.
“Será que acharam outro serafim?”
Abriu a porta do chalé que dava para a cozinha, cansado e sem fôlego. Daniel não estava mais ali agora era Gabriel, sentado a mesa concentrado em algo. Alan sem se importar com o que quer que o anjo olhe começou seu interrogatório.
- Fiquei quatro meses dormindo, o que aconteceu nesse tempo. Resgataram Raquel? Acharam outro serafim? E quem que era o cara que acertou Ledge?
Gabriel levantou o rosto atônito não tinha reparado em Alan até então.
- Bom, é... Não resgatamos Raquel ainda. Esta difícil para nós. Ledge a levou para o inferno, esta bem guardada por muitos demônios. Nem com um grande exercito de arcanjos conseguiríamos entra lá. Estamos pensando com cautela e cuidado no que fazer, já temos alguns planos mas ainda não posso lhe contar...Enquanto aos serafins...É encontramos um por acidente ...Foi quem acertou Ledge...
- Como ele viu toda a guerra? Achei que não pudessem ver... E como sabia em quem acertar?
Gabriel levantou os ombros no sentido de dúvida e por fim disse.
- Humanos não podem ver, mas ele não é um humano, é um anjo... Ele te viu encurralado e simplesmente pegou a espada a acertou seu opressor, mas não sabia quem era Ledge.
- E cadê ele? Tem a graça?
Gabriel mexeu a cabeça dizendo que sim e indicou o sofá na sala, onde tinha uma montanha de cobertores e almofadas que se mexia como uma respiração.
Alan surpreso, nem se quer tinha olhado para o lado da sala naquele dia, ficou tão submerso em seus pensamentos que não olhou direito ao seu redor. Daniel não tinha mencionado nada. Lembrando do anjo, resolveu perguntar.
- O Daniel tá estranho, parece triste. Anjos ficam tristes?
Gabriel ao ouvir essas palavras abaixou os olhos. A expressão de seu rosto que antes estava neutro mudou, agora tinha um ar leve de tristeza.
- Anjos não deveriam ficar tristes. Se passarmos muito tempo perto de humanos, obtemos muita influencia de alguns sentimentos e emoções humanas. Ficamos tempo demais perto de você. Daniel principalmente. Ainda por cima é o caçula, não entende muito das coisas, é o mais fácil de ser influenciado.
Alan se lembrou da cena na praia, quando estava com os três anjos, lembrou que nenhum deles sabia lidar ou entendê-lo. Para ele, eles eram estranhos e sem graça, agora passa a ter certo sentido o modo de agirem perto dele, era a sua influencia direta sobre os anjos.
Ambos ficaram mergulhados em um profundo e melancólico silêncio. Alan não tinha vontade alguma de conversar. Ouviram um ronco alto e nojento vindo de baixo da montanha no sofá. Por um momento tinha se esquecido do novo achado.

G.C.Pezzatto – 16/08/11

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